Cajado Mind #1

Como sou grande fã do conceito líquido de Bauman, gostaria de dedicar algumas linhas aqui (por sinal muito mal escritas!!) deste humilde blog para abordar um pouco deste tema.

Bauman desenvolveu uma série de livros com esse tema e um deles foi o AMOR LÍQUIDO, na qual vou tentar abordar aqui neste texto.

Esse livro foi um “boom” pois todo mundo ficou interessado, porque estamos numa era de inconstância muito forte e numa era virtual técnico cientifica extremamente abrangente (quem não tem aquele tiozão do ZAP). Para falar do Amor Líquido, Bauman se pautou mais nas relações virtuais, porém acho interessante abordar aqui as relações que começam no virtual que depois vai para o pessoal. As dificuldades de você se agarrar/prender, nos tempos atuais onde tudo é fugaz, tudo é muito rápido e toda essa velocidade se dá na minha opinião por um único motivo, o MEDO.

Pare e pense quantas vezes você desejou dar um basta em alguma relação devido ao medo do seu parceiro/namorado ser igual ou ter alguma atitude parecida com algo que tenha te feito muito mal no passado.

Em um trecho do livro Insustentável Leveza do Ser, do escritor Milan Kundera, ele fala sobre vertigem, e ela tem muita sinergia com o mundo contemporâneo. Ele afirma que a vertigem não é o medo de cair até porque tem algo ali que não nos permite cair, na realidade temos medo da queda que de certa forma a gente deseja (sim, eu dei uma grande viajada). Mas para falar de amor líquido essa viagem é perfeita, porque iremos trabalhar com a auto sabotagem e também com a tentativa de se defender do que é profundo em nós, porque encarar o que é profundo é extremamente difícil, pois nem sempre estamos num momento bom para encarar o que há de mais profundo em nós. Vivemos superficialmente para se defender, e uma consequência disso é que acabamos ficando viciados em nos defender, isso na modernidade liquida e consequentemente no amor também. Quantas vezes você já se frustrou? 1, 2, 3. O mais curioso é que geralmente as pessoas universalizam as suas experiências muito rápido. As vezes por causa de duas frustrações você já diz que nenhum homem/mulher presta e vários outros clichês, que na verdade não servem para nada, ele só atrapalha a nossa vivência e até a nossa tentativa para uma relação duradoura de sólida.

Voltando agora um pouquinho no Bauman, no livro Amor Liquido ele fala sobre os saberes falsos que a gente adquire porque vivemos essas experiências, nos angustiamos e a partir das construções dessas experiência a gente tenta construir alguma coisa ou algum tipo de saber, só que temos que tomar muito cuidado com isso pois estamos na era das radicalizações e nem me refiro a era atual, desde que o homem é homem ele tem a tendência ao exagero. Aristóteles fala um pouco sobre o exagero, pois a ética de Aristóteles fala sobre a ética dos meios, ele diz (me refiro de maneira muito simplória) para a gente evitar os extremos nas nossas sensações, vira e mexe nós vamos de um extremo ao outro devido as nossas experiências mas a prudência e o caminho do meio nos leva a uma mente mais sã.

Aproveitando o gancho do assunto anterior, seria interessante falar sobre o conceito devir. (Para quem não está familiarizado com esse contexto segue mais uma explicação simplória)

Ele é um conceito da filosofia que significa vir a ser, ele é um fluxo ininterrupto. A geração contemporânea está muito colada nesse conceito e como estou destacando um pouco o exagero e de meio termo, deixo aqui uma provocação, para você que está dedicando alguns minutos do seu dia nessa leitura. O que seria pior, uma geração pautada nesse conceito devir desenfreado ou uma geração pautada só no que é sólido? Lembre-se sempre temos que encontrar o equilíbrio.

No livro Amor Líquido, Bauman menciona um livro de Ítalo Calvino chamado AS CIDADES INVISÍVEIS. Ele fala se a gente tivesse que perguntar para população de Leonia (cidade aonde passa a história) quais são as suas paixões? Provavelmente a população responderia que seria desfrutar coisas diferentes e novas a todo momento. Pois nesta cidade, toda manhã são roupas novas, o último modelo de TV e geladeira e etc, tudo novo em folha e isso todos os dias. É como se todas as manhãs eles desfrutassem do melhor, do que nunca foi tocado, mas no outro dia tem que haver uma limpeza. E aí entram os varredores de lixo, que são tratados como anjos. Onde Bauman quer chegar com essa citação? Ele quer destacar a necessidade de limpar uma impureza que é recorrente. E não seria por este motivo que estamos o tempo todo partindo de uma relação para outra, porque estamos tentando nos limpar, para não ter tempo de se desgastar ou se curar, pois não temos paciência para essa coagulação. Enfim, prefiro seguir no caminho dos meus avós, que quando questionados sobre qual era o segredo para eles permanecerem juntos durante tanto tempo, eles simplesmente respondiam que eles aprenderam a consertar as coisas e não jogar fora. O problema é que estamos vivendo numa modernidade liquida que gera um mercado líquido, uma indústria liquida. Onde tudo é supérfluo e descartável. E acabamos tratando as relações e pessoas como objetos descartáveis devido a essas influências.

Para finalizar e aproveitando o exemplo acima, gostaria de destacar que antes da construção da relação amorosa ou social, vem a construção conosco. Onde devemos ter o interesse verdadeiro em nós, o interesse nobre que gere reflexão e nos force a evoluir, nos conhecer e se consertar. Podendo assim aplicar o conceito da VIA NEGATIVA, que é saber exatamente o que não queremos. Lembre-se, nunca se engane, pois se enganar é muito fácil. E quando encontrar a pessoa que te transborda e que te retroalimenta e está disposta a aprender a consertar, não perca a oportunidade de embarcar na melhor sensação que podemos ter nessa vida.